quarta-feira, 2 de setembro de 2009

... Bloody Sunday

Hoje acordei com as mãos cheias de sangue. Pelo brilho do mesmo dava para notar que estava fresco e que pertencia a alguém tão inocente quanto eu. A primeira reacção foi olhar-me ao espelho e procurar exaustivamente uma qualquer ferida que pode-se ter disputado todo aquele cenário.

Nada…

Fechei os olhos e os flashes encandearam-me a negra visão e lá estava ela. A vitima mais recente de alguém cuja intenção não nunca foi despertar o seu amor ou trazer ilusões seminais …., mas que, no entanto matou!

Quando eu era mais novo, a minha avó contava-me em histórias que, as sereias usavam o seu canto e conduziam os marinheiros à morte. E o quanto eu preferia que assim fosse…

Por muito que procure nos meus sentimentos uma razão para viver, por vezes torna-se difícil, quando os mesmos servem para destruir todos aqueles que ousam aproximar-se de mim.

Se eu não estivesse habituado, hoje estava longe. Quieto. Calado. Resguardado pela parede que indisponibiliza toda e qualquer preservação do mártir que preside em mim.

Depois disto de nada vale lavar as mãos. De nada serve cobrir a carcaça com lágrima e flores para que se mande o cheiro da minha culpa para o túmulo.

Se ao menos eu te pudesse dar todo o sangue que esvaziei das tuas veias. Se ao menos eu pudesse fazer com que as minhas palavras conseguissem erguer um muro bem mais alto e sólido. Se eu não adivinha-se!

Em 1917, Franz Kafka escreveu o seguinte no conto O silêncio das sereias:

As sereias, porém, possuem uma arma ainda mais terrível do que seu canto: seu silêncio.

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