quarta-feira, 15 de outubro de 2008

...Autumn

Embora cada vez mais pareça que só existem duas estações do ano, uma em que chove mais e outra em que chove menos, … estamos no Outono. E é no Outono que mais gosto de respirar. Gosto de acordar com uma manhã enevoada que tarda em descobrir. À tarde, sente-se o aveludado laranja do sol a tentar aquecer a pouca seiva que ainda existe nos troncos, ramos e folhas das árvores. Infortúnio, claro! Estas acabam sempre por secar e cair e dão-nos a oportunidade de caminharmos sobre elas, nos passeios, ouvindo-as estalar debaixo dos nossos pés. E por sim a noite cai como um olhar triste de um lobo qualquer.
O meu sangue não gela. Por isso é que consigo andar sobre as folhas secas, caminhar à chuva e sentir o vento a despentear-me enquanto observo o mar, sentado no paredão. E enquanto caminho nas sombras dos ramos outrora fecundos, eu sinto seguro e livre, também não sei mais para onde ir, mas sei que não consigo estar onde não pertenço.

As palavras saem murmurando deste lápis
Como se os teus ouvidos fossem este papel,
Palavras cinzentas, riscos e traços
Dum lápis vácuo e agora invisível.

Teus ouvidos já não são de papel
Nem espaços têm para eu escrever.
São mudos às palavras que grito,
São cegos e jamais quererão ver

E se eu regasse as árvores da rua
Com sopa de letras e a chuva que cai do céu,
Cada folha que agora caísse
Trazia escrito um verso meu.

E, talvez com a ajuda do vento
As fizesse chegar junto de ti.
Seriam pisadas,
Varridas, ignoradas,
Mas a minha vontade eu cumpri.

Parabéns Marisa!

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